MacroChronics 42 (9/6/2024)
Mercado Financeiro: A Dança das Cadeiras Global em 2024 - Quem Vai Sobreviver?" 🏦⚔️
Definitivamente, um dos últimos seriados mais honestos dos últimos anos foi "Game of Thrones". Não pelo espetáculo cinematográfico dos CGI e dos dragões, mas por uma história que nos transporta para um mundo onde as narrativas são honestas, puras, sem ideologias e selvagens, transmitindo a realidade do ser humano mesmo em um mundo de fantasia.
Não à toa, no mercado financeiro vivemos essa mesma dança das cadeiras, onde a política, infelizmente, tem papel cada vez mais relevante que os balanços das empresas. Parafraseando Johan Cruyff, um dos maiores jogadores e técnicos de futebol de todos os tempos: “Quando o técnico é mais importante que os jogadores, há um problema.” E assim se faz valer tanto no futebol quanto no xadrez de "Game of Thrones", quando um rei é decapitado por não ter alianças suficientes.
A Dança das Cadeiras Global
As eleições na Europa, com o Parlamento em destaque, estão revelando um cenário onde partidos de direita estão ganhando terreno, enquanto os socialistas perdem espaço. Isso reflete um descontentamento crescente com o status quo, impulsionado por uma combinação de políticas de imigração controversas, gastos públicos descontrolados e uma percepção de ineficácia governamental.
Na Alemanha, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) está ganhando terreno em regiões onde a imigração e a economia são questões sensíveis. Na Itália, a ascensão de Giorgia Meloni e seu partido de direita, Irmãos da Itália, mostra um claro movimento para longe dos ideais socialistas. Mesmo na França, o aumento do apoio a Marine Le Pen e ao Rassemblement National destaca uma mudança significativa no panorama político.
A Inflação: O Fiel da Balança
Se olharmos na história e nesses eventos, parece que a inflação é sempre o fiel da balança. Embora a inflação global tenha mostrado sinais de recuo recentemente, a memória coletiva dos picos inflacionários ainda está fresca. Após anos de políticas monetárias frouxas e estímulos fiscais massivos, os efeitos ainda são sentidos na volatilidade dos mercados e no custo de vida.
Revisando o Papel da Inflação na História
Vamos fazer um passeio pela memória para ver como a inflação sempre foi o vilão da história. Durante a Revolução Francesa, o excesso de gastos públicos e a inflação galopante criaram um caldeirão de insatisfação que acabou fervendo e derrubando a monarquia. Pulamos para a República de Weimar na Alemanha, onde a hiperinflação fez com que as pessoas carregassem carrinhos de mão cheios de dinheiro para comprar um pedaço de pão. Essa desordem econômica abriu as portas para a ascensão do nazismo, com promessas de estabilidade e ordem.
Na década de 1970, a crise do petróleo gerou uma inflação assustadora, abalando as economias ocidentais e levando a uma série de políticas econômicas que tentavam, muitas vezes sem sucesso, domar o dragão inflacionário. As políticas de Paul Volcker nos EUA, com aumentos agressivos nas taxas de juros, foram uma resposta necessária, embora dolorosa, a essa inflação desenfreada.
E claro, não podemos esquecer da crise financeira de 2008. Embora tenha sido precipitada por uma bolha imobiliária e uma crise bancária, a resposta dos bancos centrais – inundando o mercado com dinheiro barato – plantou as sementes para as pressões inflacionárias que estamos vendo hoje.
O Ciclo Atual
Agora, em pleno século XXI, a inflação está de volta, mas com nuances. Após a pandemia de COVID-19, os governos despejaram trilhões de dólares em estímulos para evitar um colapso econômico total. O resultado foi um aumento generalizado dos preços, embora os recentes esforços dos bancos centrais para conter a inflação, como os aumentos de juros pelo Federal Reserve e pelo Banco Central Europeu, estejam começando a surtir efeito.
A inflação medida pela métrica preferida do Fed foi de 2,7% no ano que terminou em abril, acima da meta de 2%. Dados recentes mostraram um aumento nos salários e na criação de empregos, o que pode fazer o Fed manter as taxas estáveis por mais tempo. No Canadá, o Banco do Canadá recentemente iniciou um ciclo de flexibilização monetária, enquanto o Banco do Japão pode reduzir a compra de títulos, um movimento que pode apoiar o iene.
O BCE Acabou de se Juntar ao Clube de Cortes de juros
Este mapa destaca as mudanças nas taxas de juros dos bancos centrais na Europa em 2024. Vemos que muitos países cortaram suas taxas de juros, indicando uma resposta agressiva para combater a desaceleração econômica e estimular o crescimento.
Eurozone: GDP Deflator (2007-2024)
- Este gráfico abaixo mostra a contribuição dos lucros unitários, custos trabalhistas unitários e impostos/subsídios para o deflator do PIB da zona do euro. Podemos ver que, após um período de estabilidade, os custos trabalhistas e lucros unitários aumentaram significativamente, contribuindo para a alta inflação recente.
Similar ao primeiro gráfico, este mostra a evolução dos lucros unitários, impostos e custos trabalhistas na zona do euro. A recente queda no deflator do PIB sugere um alívio nas pressões inflacionárias, mas os custos trabalhistas ainda são uma preocupação.
A Semana Decisiva
Este mapa global mostra as decisões de taxa de juros programadas para esta semana, incluindo o Fed, BOJ e outros bancos centrais. Essas decisões serão cruciais para determinar o rumo da economia global nos próximos meses.
Também esta semana promete ser crucial para o cenário econômico global, com uma série de dados de inflação a serem divulgados, principalmente nos Estados Unidos, o motor do mundo. O Federal Reserve está prestes a atualizar suas previsões de taxas de juros, e qualquer sinal de corte pode agitar os mercados. A expectativa é de que o Fed mantenha as taxas inalteradas, mas as projeções dos membros do comitê – o famoso "dot plot" – mostrarão o caminho provável para a política monetária nos próximos meses.
A partir da análise do aumento de 0,5% no índice nacional de aluguel nos EUA em maio de 2024, observamos uma recuperação nos preços de aluguel após um período de queda. Esse aumento reflete uma pressão inflacionária significativa no mercado imobiliário. Dado que o custo do aluguel tem um grande peso na métrica do Índice de Preços ao Consumidor (CPI).”
A tendência de queda no índice de aluguéis na média de 12 meses sugere que a inflação no setor de habitação está diminuindo, embora ainda permaneça alta. Mesmo com a redução, a inflação persistente no setor de habitação pode levar o Fed a adotar uma postura cautelosa em relação aos ajustes nas taxas de juros.
Outro fator importante é que em maio, a atividade no setor de serviços dos EUA apresentou uma recuperação significativa, com o ISM Services PMI subindo para 53,8, retornando à expansão após a contração do mês anterior. Esse aumento, acima das expectativas, reflete uma demanda sustentada, apesar dos altos custos de insumos e financiamento. Os novos pedidos e a atividade empresarial mostraram sinais positivos, enquanto os preços pagos caíram modestamente, indicando uma ligeira alívio na pressão inflacionária. No entanto, a componente de emprego permaneceu em contração, sugerindo cautela nas contratações devido à incerteza econômica e custos elevados.
ISM Subcomponentes em Relação às Médias de 10 Anos
O Impacto nas Eleições e nos Mercados
Essa pressão inflacionária está causando uma reviravolta política significativa. Na Europa, partidos de direita estão ganhando terreno, prometendo controle mais rígido sobre imigração e gastos públicos. O descontentamento com as políticas atuais é palpável, e os eleitores estão prontos para trocar de técnico, na esperança de que um novo comandante possa finalmente estabilizar o navio.
Nos mercados emergentes, como México e Índia, a inflação está exacerbando as tensões políticas, tornando os investidores nervosos e menos dispostos a assumir riscos. A incerteza política nesses países é um reflexo direto de suas políticas econômicas, muitas vezes mal executadas ou mal concebidas.
No Brasil, a expectativa de inflação para 2024-2026 está mostrando erosão, com analistas aumentando suas projeções para a taxa de juros, o que adiciona especulação sobre a manutenção das taxas atuais. A divulgação dos dados de inflação esta semana também será um ponto de atenção, com potencial para influenciar as decisões do Banco Central.
Na Ásia, o Banco do Japão deve anunciar uma decisão de política monetária que pode incluir a redução da compra de títulos, enquanto dados de inflação da China e da Suécia também estarão no radar. A economia do Japão, que contraiu por duas vezes nos últimos três trimestres, estará sob escrutínio com a divulgação dos dados revisados de crescimento do PIB.
No Oriente Médio, os dados do PIB da Arábia Saudita, a divulgação do orçamento anual do Quênia e os relatórios de preços ao consumidor de países como Noruega, Gana, Israel e Rússia trarão mais clareza sobre a situação econômica dessas regiões. O impacto do conflito na Ucrânia continua a pressionar a economia russa, enquanto as políticas fiscais e monetárias na região estão sendo ajustadas para lidar com essas pressões.
Conclusão
Assim como em "Game of Thrones," a sobrevivência no mercado financeiro atual é para aqueles que dominam o jogo das cadeiras. Em meio à inflação persistente, altas taxas de juros e mudanças políticas drásticas, a busca por ativos reais é uma tendência clara. Enquanto esse cenário continuar, ações serão as grandes beneficiadas.
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